Segundo o Ministério Público, ex-ministro do governo Michel Temer teria
agido para impedir eventuais delações do ex-deputado Eduardo Cunha e do doleiro
Lúcio Funaro, ambos presos.
Por
G1, São Paulo e Brasília
O
ex-ministro Geddel Vieira Lima em imagem de novembro do ano passado (Foto:
Ueslei Marcelino/Reuters/Arquivo)
O ex-ministro
da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima foi preso preventivamente nesta
segunda-feira (3) na Bahia, por decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da
10ª Vara da Justiça Federal de Brasília. Ele deve ser levado ainda nesta
segunda por agentes da Polícia Federal para Brasília.
O G1 procurou por telefone as advogadas de Geddel, a
assessoria de imprensa do ex-ministro e o diretório do PMDB, mas não tinha
conseguido contato até a última atualização desta reportagem.
Ex-deputado e
ex-ministro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer, Geddel
era um principais nomes do PMDB no governo até pedir demissão, em
novembro do ano passado, depois de supostamente ter pedido a
intervenção do então ministro Marcelo Calero (Cultura) para liberar um
empreendimento imobiliário em Salvador. À época, ele negou que tivesse feito
pressão sobre Calero. No governo Temer, Geddel era um dos principais
responsáveis pela articulação política com deputados e senadores.
Geddel Vieira
Lima foi preso acusado de agir para atrapalhar investigações da Operação Cui Bono, que
apura fraudes na liberação de crédito da Caixa Econômica Federal
– o ex-ministro foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa entre 2011 e
2013, no governo Dilma Rousseff. A investigação, que se
concentra no período em que Geddel ocupou o cargo, teve origem
na análise de conversas registradas em um aparelho de telefone celular
apreendido na casa do então deputado Eduardo Cunha.
O Ministério
Público Federal (MPF) argumenta que Geddel atuou para evitar possíveis delações
premiadas do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lúcio
Funaro, ambos presos pela Operação Lava Jato e também investigados na Cui Bono.
Segundo o MPF,
Geddel tentou garantir que Cunha e Funaro recebessem vantagens indevidas para
não fazer delação, além de “monitorar” o comportamento do doleiro para
constrangê-lo a não fechar o acordo.
Na petição
apresentada à Justiça, foram citadas mensagens enviadas recentemente (entre os
meses de maio e junho) por Geddel à esposa de Lúcio Funaro. Para provar, tanto
a existência desses contatos quanto a afirmação de que a iniciativa partiu do
político, Funaro entregou à polícia cópias de diversas telas do aplicativo.
Prisão
de Geddel Vieira Lima (Foto: Editoria de Arte/G1)
Nas mensagens,
o ex-ministro, identificado pelo codinome “Carainho”, sonda a mulher do doleiro
sobre a disposição dele de se tornar um colaborador do MPF.
Para os
investigadores, os novos elementos deixam claro que Geddel continua agindo para
obstruir a apuração dos crimes e ainda reforçam o perfil de alguém que reitera
na prática criminosa.
A prisão se
baseia em depoimentos de Funaro e nas delações premiadas do empresário Joesley
Batista, um dos donos do grupo J&F, e do diretor jurídico do grupo,
Francisco de Assis e Silva.
Além de Geddel,
estão presos em decorrência da Cui Bono Cunha, Funaro, o também ex-presidente
da Câmara Henrique Eduardo Alves e o consultor André Luiz de Souza. Cunha,
Alves e Funaro já são réus no processo sobre o pagamento de propina decorrente
da liberação de recursos do FI-FGTS para a construção do Porto Maravilha, no Rio
de Janeiro. Além deles, respondem à ação, Alexandre Margoto e Fábio Cleto.
Nota do
Ministério Público
Leia a íntegra
de nota divulgada pelo Ministério Público Federal sobre a prisão de Geddel
Vieira Lima:
Em
cumprimento a uma ordem judicial que atendeu a pedido da Polícia Federal e da
Força-Tarefa Greenfield – que também é responsável pelas operações Sépsis e Cui
Bono - , foi preso nesta segunda-feira (3), o ex-ministro Geddel Vieira Lima. A
prisão é de caráter preventivo e tem como fundamento elementos reunidos a
partir de informações fornecidas em depoimentos recentes do doleiro Lúcio
Bolonha Funaro, do empresário Joesley Batista e do diretor jurídico do grupo
J&F, Francisco de Assis e Silva, sendo os dois últimos, em acordo de
colaboração premiada. No pedido enviado à Justiça, os autores afirmaram que o
político tem agido para atrapalhar as investigações. O objetivo de Geddel seria
evitar que o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o próprio Lúcio Funaro
firmem acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF). Para isso,
tem atuado no sentido de assegurar que ambos recebam vantagens indevidas, além
de “monitorar” o comportamento do doleiro para constrangê-lo a não fechar o
acordo.
Na
petição apresentada à Justiça, foram citadas mensagens enviadas recentemente
(entre os meses de maio e junho) por Geddel à esposa de Lúcio Funaro. Para
provar, tanto a existência desses contatos quanto a afirmação de que a
iniciativa partiu do político, Funaro entregou à polícia cópias de diversas
telas do aplicativo. Nas mensagens, o ex-ministro, identificado pelo codinome
“carainho”, sonda a mulher do doleiro sobre a disposição dele em se tornar um
colaborador do MPF. Para os investigadores, os novos elementos deixam claro que
Geddel continua agindo para obstruir a apuração dos crimes e ainda reforçam o
perfil de alguém que reitera na prática criminosa. Por isso, eles pediram a
prisão “ como medida cautelar de proteção da ordem pública e da ordem econômica
contra novos crimes em série que possam ser executados pelo investigado”.
Com
a prisão de Geddel, passam a ser cinco os presos preventivos no âmbito das
investigações da Operação Sépsis Cui Bono. Já estão detidos os ex-presidentes
da Câmara, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, o doleiro Lúcio Funaro e
André Luiz de Souza, todos apontados como integrantes da organização criminosa
que agiu dentro da Caixa Econômica Federal (CEF). No caso de Cunha, Alves e
Funaro, já existe uma ação penal em andamento. Os três são réus no processo que
apurou o pagamento de propina em decorrência da liberação de recursos do
FI-FGTS para a construção do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. Além deles,
respondem à ação, Alexandre Margoto e Fábio Cleto.
Mais sobre as investigações
Geddel
Vieira Lima é um dos investigados na Operação Cui Bono. Deflagrada no dia 13 de
janeiro, a frente investigativa tem o propósito de apurar irregularidades
cometidas na vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal,
durante o período em que foi comandada pelo político baiano. A investigação
teve origem na análise de conversas registradas em um aparelho de telefone
celular apreendido na casa do então deputado Eduardo Cunha. O teor das
mensagens indicam que Cunha e Geddel atuavam para garantir a liberação de
recursos por vários setores da CEF a empresas que, após o recebimento, pagavam
vantagens indevidas aos dois e a outros integrantes do esquema, entre eles
Fábio Cleto. Cleto, que ocupou por indicação de Eduardo Cunha a
vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias, foi quem forneceu as
primeiras informações aos investigadores. Em meados do ano passado, ele fechou
acordo de colaboração premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR).
Em
conversas datadas de 2012, por exemplo, os envolvidos revelam detalhes de como
agiram para viabilizar a liberação de recursos para sete empresas e um partido
político. Entre os beneficiados do esquema ilícito aparecem companhias
controladas pela holding J&F, cujos acionistas firmaram recentemente acordo
com o MPF. O aprofundamento dos indícios descobertos com a análise do conteúdo
armazenado no aparelho telefônico apreendido permitiu aos investigadores
constatarem intensa e efetiva participação de Geddel Vieira Lima no esquema
criminoso. Além da prisão preventiva, a Justiça acatou os pedidos de quebra de
sigilos fiscal, postal, bancário e telemático do ex-ministro.
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